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Destaque EDUCAÇÃO

A POPULAÇÃO AFRODESCENDENTE É LEMBRADA NO DIA DO MURIAEENSE?

Nicélio do Amaral Barros – Historiador. Doutorando em História Econômica pela USP.  

 

Não. Simples assim. Aliás, em sua maioria absoluta, as datas referentes às emancipações políticas ou relacionadas a questões locais, raramente costumam se lembrar da população preta.

Por mais incrível que seja, toda a tragédia da escravidão negra no Brasil ainda é relegada. Nós, os historiadores, a discutimos muito em nossos escritos e encontros. Porém, no dia a dia da população, nas práticas diárias, a escravidão machuca poucas consciências.

Fala-se da época da escravidão, como se fosse algo que tivesse acontecido longe, muito longe. O mito da miscigenação de raças, da mistura democrática de cores, continua sendo o imperativo cotidiano.

A verdade, nua e crua, não é assim. A população preta vive pior, mora pior, estuda pior, ganha menos e tem os empregos e subempregos mais precários.

Admiro os que pensam o contrário de mim, seja qual cor tenha. Os chamo ao debate. Mas, não sou cordialmente correto. Cabe ao historiador “semear a discórdia”. Lembrar, não lamber, as feridas de uma sociedade.

O preto não está inserido no Dia do Muriaeense. Com absoluto respeito à distinta data, trata-se de uma festividade branca.

Então imaginemos essas terras virgens. Mato nativo. Imaginem as primeiras picadas abertas, as primeiras fazendas, as primeiras plantações, os primeiros pastos, as primeiras casas, as primeiras residências, as primeiras capelas, as primeiras mesas com suas refeições, as primeiras embarcações, as primeiras roupas lavadas, os primeiros limpadores de chão e de fezes.

Tinham sempre inúmeros escravos negros em todas elas. Trabalhando de graça, escravo que era.

Nas senzalas, esteiras para dormir, sal para as feridas, farinha para comer, chicote no lombo se reclamasse. Estupros das meninas e mulheres por capangas e feitores. Doenças, mortes, indignas. Nada escrito, infelizmente. Negro não era gente.

Tenhamos dignidade e façamos um 6 de setembro em que a história seja contada, para além dos gabinetes. A data pertence a todos: brancos de todas as descendências, sírios-libaneses, negros de várias etnias africanas, nativos coroado, puri, guaru.

Heróis? Façamos jus a todos; heróis e heroínas!